Amigos, abaixo, um artigo sobre o Brasil, publicado duas semanas atrás, pela revista The Economist. O conteúdo abaixo é uma interpretação minha, baseada no que li e não uma tradução literal/professional. Para os interessados o artigo original encontra-se na página da Revista.
Em Um Atoleiro,
A antiga estrela da América Latina está em sua pior crise desde 1990.
Durante a campanha para seu segundo mandato, como presidente do Brasil nas eleições de outubro passado, Dilma Rousseff pintou um quadro rosa da sétima maior economia do mundo. Ela argumentava que os empregos, os aumentos do salário mínimo e benefícios sociais, estavam sendo ameaçados pelos nefastos planos neoliberais de seus oponentes. Em apenas dois meses em seu novo mandato, os brasileiros estão percebendo que lhes foi pintado, um falso prospecto.
A economia do Brasil está um caos, com problemas muito maiores do que o governo vai admitir, ou investidores parecem registrar. A estagnação econômica registrada desde 2013, está se tornando uma recessão prolongada, onde inflação alta está apertando salários, as dívidas dos consumidores encontram-se em plena ascensão. Os investimentos, andam 8% menos que no mesmo período do ano passado, e este quadro pode piorar ainda mais. O escândalo de corrupção na Petrobras, a gigante estatal de petróleo, tem impactado as maiores empresas de construção do país, e paralisado qualquer investimento, pelo menos até o término das investigações. O Real registrou uma queda de 30% em relação ao dólar desde maio de 2013: uma mudança necessária, mas que aumenta o peso do fardo dos US $ 40 bilhões, em dívida externa que vence este ano, de empresas brasileiras.
Sair deste atoleiro seria difícil, mesmo para uma liderança política forte que certamente não seria o caso da presidente Dilma atualmente. Ela ganhou as eleições em Outubro passado por uma pequena margem, e sua base política está se desintegrando. Pesquisas recentes do Datafolha indicam que, seu índice de aprovação caiu de 42% em dezembro para 23% este mês. Ao que tudo indica, sua credibilidade foi abalada tanto pela deterioração da economia, quanto pelo escândalo da Petrobras, que envolve sérias acusações de propina de pelo menos US $ 1 bilhão, que foram canalizados para os políticos no Partido dos Trabalhadores (PT) e outros partidos aliados na base do governo. Vale lembrar que, durante um período razoável, Dilma Rousseff presidiu o conselho de administração da Petrobras. Isto posto, é razoável sugerir que, para o Brasil ganhar algum benefício em seu segundo mandato, a Presidente precisaria dar ao país uma direção totalmente nova.
Levy para o resgate?
Problemas do Brasil são em grande parte autoinfligidos. Em seu primeiro mandato, Dilma defendia uma capitalismo de Estado tropical, que tinha como base afrouxar o controle fiscal, controle opaco das contas públicas, e finalmente uma política industrial que minou a competitividade das empresas brasileiras. Isso sem falar da intromissão presidencial na política monetária nacional. Como resultado, no ano passado, durante sua campanha a reeleição, a presidente viu o déficit fiscal dobrar, para atingir a casa de 6,75% do PIB.
Para seu crédito, Dilma reconheceu que o Brasil precisa de mais políticas que estimulam investimentos e favorecem as empresas, para ajudar o Brasil a manter a classificação atual de crédito, junto às agências internacionais de classificação de riscos, mantendo assim, o grau de investimento e consequentemente retornar ao crescimento. Essa percepção é personificado por seu novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, economista treinado na Universidade de Chicago EU, banqueiro e um dos poucos economistas liberais do país. No entanto, o fracasso do Brasil em lidar rapidamente com distorções macroeconômicas deixou para o Sr. Levy ter que lidar com uma armadilha de recessão.
Para estabilizar a dívida pública bruta, ele prometeu um aperto fiscal enorme de quase dois pontos percentuais do PIB este ano. Parte desta economia vem da remoção do subsídio à tarifa da energia elétrica e a reinstituição do imposto sobre os combustíveis. Ambas as medidas têm ajudado a empurrar a inflação para 7,4%. Ele também planeja reduzir empréstimos subsidiados pelos bancos públicos para setores e empresas favorecidas.
O ideal é o Brasil compensar esse aperto fiscal com uma política monetária mais flexível. Mas por causa do passado hiperinflacionária do país, bem como mais recentes erros, o Banco Central se curvou à vontade da presidente, ignorou sua meta de inflação e cortou tolamente sua taxa de referência em 2011-12, deixando assim, a margem de manobra de hoje bem limitada. Com a inflação ainda acima da meta, o Banco Central não pode cortar sua taxa de referência a que é de 12,25% atualmente, sem arriscar ainda mais a perda de credibilidade e minar a confiança dos investidores. Um aperto fiscal e altas taxas de juros, significa sofrimento para empresas e famílias brasileiras, e sinaliza também que o retorno ao crescimento acontecerá de forma mais lenta. O que faz este ajuste perigoso é a fragilidade política de Dilma Rousseff. Na prática, ela ganhou um confortável, embora reduzida, maioria legislativa nas eleições de outubro. No entanto, o PT sinaliza estar dessatisfeito com as politicas fiscais do Sr. Levy, em parte porque a campanha não preparou o terreno para eles. Dilma sofreu uma derrota esmagadora no dia 1º de fevereiro na Câmara dos Deputados. Eduardo Cunha, que venceu as eleições para presidente da câmara, derrotando o candidato forte do PT, vai prosseguir sua própria agenda, não dela. Esta Não seria a primeira vez, que o Brasil pode estar em um período de governo semi-parlamentar.
Desta forma, o país enfrenta seu maior teste desde o início de 1990. Os riscos são claros. Recessão e redução das receitas fiscais, podem comprometer o ajuste do Sr. Levy. Qualquer retrocesso por sua vez pode levar a uma corrida ao real e o risco do rebaixamento do Brasil, na classificação de crédito, tendo como consequência, a elevação do custo do financiamento para o governo e também para empresas. Consequência disto, pode ser a repetição das manifestações das massas em 2013 contra a corrupção e os maus serviços públicos, e a condenação da própria presidente Dilma Rousseff.
A partir de fraqueza, uma oportunidade
No entanto, a fraqueza da presidente pode também ser uma oportunidade , especialmente para o atual ministro da fazenda, Joaquim Levy. Ele agora é indispensável. Ele deve construir pontes com o presidente da câmara Eduardo Cunha, deixando claro que, se o Congresso tentar cobrar um preço orçamentário em troca do apoio, ele terá que compensar isto, cortando verbas de outras rubricas do orçamento da união. A recuperação da responsabilidade fiscal, deve ser duradoura para reconquistar confiança das empresas e o retorno dos investimentos. Se o ajuste fiscal fizer efeito mais cedo, mais cedo também, o Banco Central poderá começar a cortar as taxas de juros.
É preciso fazer mais para o Brasil retornar ao crescimento rápido e sustentado. Pode ser muito, esperar que a Dilma Rousseff consiga reformar as arcaicas leis trabalhistas, que ajudaram a estrangular a produtividade, mas ela deve pelo menos tentar simplificar os impostos e reduzir a burocracia. Há sinais de que o governo voltar atrás com sua política industrial, e fomentar mais o comércio internacional em uma economia ainda considerada excessivamente protegida.
O Brasil não é o único membro do quinteto BRICS, de grandes economias emergentes que se encontra em apuros. A economia da Rússia, em particular, tem sido atingida pela guerra, sanções e dependência do petróleo. Apesar de todos os problemas, o Brasil não está nem perto da confusão da Rússia. Ele tem um grande e diversificado setor privado e instituições democráticas robustas. Mas seus problemas podem ir mais fundo do que muitos imaginam. O tempo para remediá-los é agora.
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